terça-feira, 19 março, 2024

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Os grandes riscos que ameaçam a economia global em 2019

O que o ano de 2019 reserva para a economia global?

O crescimento econômico global de 2018 provavelmente fechará em cerca de 3,7%, quando todos os números forem computados, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

As duas principais economias do mundo – Estados Unidos e China – devem registrar índices razoáveis de expansão em 2018.

A maior economia de todas, os Estados Unidos, teve dois trimestres de forte expansão no meio do ano passado. Os dados dos últimos três meses do ano passado devem estar disponíveis no fim de janeiro, e mesmo que eles mostrem um pouco de desaceleração, o ano como um todo deve registrar um crescimento bastante forte (para os padrões daquele país), de cerca de 3%.

Quanto à China, a desaceleração do crescimento deve continuar em 2018, após três décadas de crescimento estonteante. Mesmo assim, a taxa deve fechar em cerca de 6,6% em 2018, o que é mais que suficiente para produzir uma melhora significativa no padrão de vida dos cidadãos chineses.

A maioria das análises mais conservadoras sugere que a retomada do crescimento global, depois da grande recessão de 2008-2009 deve continuar por pelo menos mais um ano – ou mais.

Então, o que são as tais nuvens negras?

‘Trumponomics’

Trump culpou o Fed quando o mercado de ações dos EUA caiu, no fim de 2018. — Foto: Leah Millis/Reuters

Trump culpou o Fed quando o mercado de ações dos EUA caiu, no fim de 2018. — Foto: Leah Millis/Reuters

É provável que o crescimento nos Estados Unidos seja mais lento em 2019. A aceleração do ano passado refletiu os cortes de impostos realizados pelo presidente Donald Trump em 2017, com efeito em 2018.

Há controvérsia entre os economistas sobre o quanto este impacto vai durar. A medida funcionará como um “empurrão”, cujos efeitos diminuem ao longo do tempo, ou terá resultados duradouros sobre os incentivos para trabalhar e investir?

É preciso também levar em conta o impacto do banco central americano, o Fed (Federal Reserve). A instituição continuará aumentando as taxas de juros para manter a inflação perto da meta de 2% ao ano, como fez ao longo de 2018?

Trump acredita que a ação do Fed é uma ameaça para a economia americana. O Fed, disse ele, “é o único problema da nossa economia”.

Na verdade, Trump reforça essa ideia com tanta frequência que seu secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, sentiu a necessidade de dizer publicamente que o presidente não tem intenção de demitir o chefe do Fed, Jerome Powell.

Não está claro também se Trump tem realmente o poder de fazer isso, mas o político republicano certamente se recusaria a nomear Powell para outro mandato à frente do Fed quando o período atual acabar, em 2022 (isto é, se Trump ainda for o presidente dos EUA).

De qualquer forma, a mera perspectiva do presidente de os EUA exercer o que muitos consideram ser uma influência indevida sobre o Fed tem potencial para tumultuar o mercado financeiro. O Fed recebe do Congresso dos EUA a responsabilidade sobre a política monetária do país, o que inclui o poder de definir as taxas de juros.

A visão mais aceita entre os economistas é a de que manter este tipo de decisões afastadas do controle político direto é a melhor forma, no longo prazo, de controlar a inflação.

Há ainda um outro ponto da política econômica de Trump que pode prejudicar o crescimento econômico: o comércio internacional.

Guerra tarifária?

Xi Jinping, presidente da China, deve retaliar caso os EUA imponham mais tarifas. — Foto: Mark Schiefelbein/Pool/AFP

Xi Jinping, presidente da China, deve retaliar caso os EUA imponham mais tarifas. — Foto: Mark Schiefelbein/Pool/AFP

Os Estados Unidos já estão há algum tempo em confrontação aberta com a China, por causa daquilo que Donald Trump chama de “roubo de tecnologia” das empresas americanas que fazem negócios no país asiático.

Daqui a três meses, as tarifas impostas pelo governo Trump a uma gama de produtos chineses sofrerão aumentos, de 10% a 25%. Espera-se que a China retalie os EUA, como fez na primeira rodada de aumentos tarifários.

Trump e o presidente chinês Xi Jinping tiveram algumas conversas recentes sobre o tema, e é possível que a “escalada” de agressões seja revertida. Mas não há nada certo.

Além disso há as tarifas americanas sobre o aço e o alumínio – criadas sob o pretexto de proteger a ‘soberania nacional’ dos EUA, e que afetaram um grande número de parceiros comerciais dos americanos. O Brasil e a Argentina se livraram das tarifas, que poderiam ter causado fortes danos à indústria metalúrgica dos dois países.

Assim, a perspectiva de mais tensões no comércio internacional é a primeira nuvem carregada no horizonte.

Diminuição do crescimento na Europa

A Europa tem seus próprios problemas para enfrentar. Os dados econômicos relativos ao terceiro trimestre do ano passado já mostraram uma queda pronunciada no crescimento da zona do Euro.

Uma parte destes dados negativos pode refletir uma queda de curtíssimo prazo, causada quando a União Europeia passou a aplicar novas regras para testes de emissão de poluentes de veículos – o que paralisou durante algum tempo essa indústria.

Mas os dados ruins podem também ser o começo de uma perda mais significativa de velocidade no processo de recuperação econômica – que nunca foi especialmente forte na Europa.

Um levantamento recente sobre o setor industrial na região mostrou que o desaquecimento continuou em dezembro passado – e duas das principais economia do bloco, Itália e França, tiveram retração.

A Europa também tem o seu próprio problema de comércio exterior com que se preocupar: o Brexit. O Reino Unido deve deixar a União Europeia em 29 de março. Como exatamente será esta saída ainda é uma questão em aberto – há vários resultados possíveis, alguns dos quais com potencial de destroçar o comércio entre o Reino Unido e o continente.

Recessão a caminho?

Os mercados de ações tiveram um período turbulento no fim de 2018. Muitas bolsas de valores mundo afora tiveram ganhos vultosos no começo do ano, mas que foram revertidos depois. De forma geral, foi o pior ano para os mercados globais desde a crise financeira de 2008.

Preços baixos de ações podem (atenção, podem) ser sinal de alerta de problemas econômicos mais generalizados à frente, e até mesmo de uma nova recessão – mas não é líquido e certo que isso vá acontecer.

Como disse ironicamente o ganhador do prêmio Nobel de economia Paul Samuelson, “os indicadores de Wall Street conseguiram prever nove das últimas cinco recessões”. Os mercados podem dar alarmes falsos.

O mercado de títulos de dívidas – que inclui os títulos dos governos – também está mais perto de acender a luz amarela sobre as perspectivas da economia nos EUA.

Um fenômeno conhecido como “curva invertida de rendimentos”, observado no fim de 2018, tem sido um indicativo mais confiável de uma desaceleração econômica, embora não diga quando a recessão vai ocorrer.

O fenômeno acontece quando, num dado momento, títulos de dívidas com prazo de vencimento mais curto começam a pagar mais aos investidores que os títulos de prazo longo – o contrário do que ocorre geralmente.

Dito isso, há economistas sérios que acreditam que os Estados Unidos estão à caminho de uma recessão – não neste ano, mas em 2020. Nouriel Roubini, que previu a crise de 2008, é um deles. Ele também avisa que a próxima recessão será mais difícil para o governo dos EUA e o Fed que a anterior.

A China também tem com o que se preocupar – ali, há o crescimento das dívidas do governo e das empresas, que pode comprometer a estabilidade financeira do país. Pesquisas recentes com as empresas do país mostram que o número de encomendas novas recebidas pelas fábricas caiu em dezembro de 2018. É a primeira vez que isso acontece nos últimos dois anos.

Tudo considerado, há boas razões para considerar as perspectivas de 2019 em diante mais nebulosas do que jamais estiveram, em anos.

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