sexta-feira, 29 março, 2024

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“O mundo está perplexo com o desmonte da educação no Brasil”, diz neurocientista

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis vive há três décadas no exterior e roda o mundo para divulgar sua pesquisa científica. Por isso, não tem dúvidas ao sentenciar: a comunidade internacional está perplexa com os desmontes e cortes na educação pública anunciados pelo governo brasileiro, chefiado por Jair Bolsonaro (PSL).

“O mundo inteiro está pasmo. Revistas internacionais de ciência dedicaram espaços que o Brasil nunca ganha, como por exemplo na Nature, para falar do total espanto e choque que é qualquer governo de um país como o nosso tentar criminalizar e afogar as universidades, ao invés de promover, defender e ampliar seus horizontes”, diz.

Em maio, estudantes e professores protagonizaram protestos massivos por todo o país após o anúncio do cortes de bolsas e da redução do orçamento das instituições federais, que respondem por mais de 90% da pesquisa científica no país.

Nicolelis é um dos principais nomes da ciência brasileira. O engenheiro biomédico foi considerado, em 2009, um dos 20 maiores cientistas da atualidade pela revista Scientific American.

Professor da Duke University, nos Estados Unidos, ele lidera o Projeto Andar de Novo. O trabalho já logrou que dois paraplégicos voltassem a caminhar por meio do desenvolvimento de um dispositivo de estimulação muscular e de uma interface cérebro-máquina.

De passagem por São Paulo (SP), o cientista conversou com o Brasil de Fato antes de uma palestra no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

Na entrevista, ele lembra que o extinto programa Ciência Sem Fronteiras levou o Brasil para outro patamar no mercado científico internacional. “Foi um dos maiores programas de fellowships científicas do mundo”, defende.

Ele afirma que o asfixiamento das universidades públicas, a perseguição das ciências humanas e a redução científica impactam em perda de soberania do país. “Nenhum país distribui colaboração ou know-how espacial. O Brasil teve que construir tudo na força da sua própria competência científica, no CTA [Centro Técnico Aeroespacial] de São José dos Campos e aplicando na base de Alcântara. E nós estamos dando de mão beijada isso.”

O pensamento crítico, lembra o cientista, é o antídoto para conter o avanço de pensamentos anticientíficos como o terraplanismo e teorias que negam as mudanças climáticas – que cada vez mais ganham espaço internacionalmente.

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Nicolelis foi considerado, em 2009, um dos 20 maiores cientistas da atualidade

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