terça-feira, 16 abril, 2024

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Mais de 90% dos MEIs nunca fizeram empréstimo

Todo mundo sabe como o acesso a crédito no país é difícil, caro, burocrático – especialmente em se tratando de pessoa jurídica. Falta informação; sobra insegurança. Prova disso é que levantamento realizado pela MEI Fácil – plataforma de inclusão financeira e apoio ao micro e pequeno empreendedor – apontou que 92% dos chamados MEIs cadastrados lá (pouco mais de um milhão) nunca pegaram empréstimo em nome da empresa.

A pesquisa revelou ainda que 87% não possuem meio de pagamento eletrônico (máquina de cartão); e que 70% utilizam conta-corrente ou mesmo poupança pessoa física para movimentar o caixa. Para o cofundador da startup, Rodrigo Salem, falta conhecimento, transparência, e um dos objetivos da MEI Fácil é exatamente “tirar as letras pequenas dos produtos que eles têm dificuldade de entender”, diz.

“Ele é fera no que faz, no corte do cabelo, como encanador, carpinteiro, mas não tem uma ampla formação – voltada para finanças, gestão. Falta informação, a insegurança é muito grande. E o grande sempre ganhou em cima deles, vendendo o mesmo produto por preço mais alto. Por meio de aplicativo, oferecemos auxílio como obtenção de CNPJ, emissão de nota fiscal, com custo menor, e pautado em educação, desburocratização e inclusão financeira”.

Apoio, suporte, aporte – soluções que facilitem seu dia a dia, como conta em banco que ofereça a solução “pessoa física + jurídica” – é tudo o que precisa para expandir o negócio a dona da marca de moda infantil Yumpi Lumpi, Lívia Ribeiro, 32. Pedagoga com quase 15 anos de experiência em educação social, cerca de dois anos atrás – logo após dar à luz a Enzo –, Lívia resolveu que era hora de mudar o rumo, fazer uma transição de carreira.

Inspirada no filho, e com toda a bagagem adquirida em sala de aula, chegou à ideia de fabricar roupas pregando a infância livre – “e não simplesmente para menina ou menino, azul ou rosa”. “A proposta é provocar, combater toda forma de preconceito e violência contra a criança. Chamar a atenção para a importância da educação como impulsionadora do desenvolvimento, e a ferramenta que escolhi para isso foi a moda”, conta Lívia.

Ela fala ainda que, desde sempre utilizou recursos próprios para tocar o projeto, mas que, por falta de um planejamento adequado, investiu de forma pouco acertada no início. Hoje, comercializa as peças pela internet, por meio de perfil nas redes sociais, e em lojas colaborativas, e desenvolve uma série de ações ligadas à temática envolvida. “Hoje tenho desejo de crédito. Para crescer. Estou até apostando em um banco virtual”.

Procedimentos e condições

De acordo com a analista do Sebrae Bahia, Valquíria de Pádua, antes mesmo de escolher a instituição financeira com a qual se relacionar, é necessário que o pequeno empreendedor esteja atento a algumas questões. “A concessão de um empréstimo não é automática, existem procedimentos e condições para que o crédito seja liberado. Conhecer o que cada banco tem a oferecer é de extrema importância: comparar as taxas e juros, os prazos”.

Ainda de acordo com Valquíria, ter uma boa gestão financeira é fundamental para a “saúde” do negócio. “Sempre orientamos no Sebrae não misturar dinheiro pessoal com dinheiro da empresa, e isso se estende também a contas bancárias. Evitar usar a conta pessoa física para movimento da empresa já ajuda a mostrar a instituição bancária que você separa as finanças, ganhando assim pontos na concessão”.

Ela lembra ainda que o Sebrae possui diversos cursos de capacitação sobre o tema, além de um site exclusivamente para quem busca informação sobre como obter crédito (www.5docredito.com.br). Os conteúdos são publicados sempre às quintas-feiras.

Gerente de microfinanças do Banco do Nordeste em Salvador, responsável pela carteira do Crediamigo, Yury Meira destaca a importância do empreendedorismo para a instituição, na estratégia de apoio ao pequeno. Ele lembra que o programa oferece crédito orientado para quem é comerciante, prestador de serviço, autônomo ou dono de pequena indústria, de forma solidária.

E explica o funcionamento: “Um grupo de amigos, vizinhos ou conhecidos se une para obter crédito de forma coletiva, sem a necessidade de avalistas. O diferencial é que não precisa necessariamente que o cidadão seja formalizado, nem mesmo ser MEI. Atendemos, inclusive, empreendedores que passam por uma dificuldade financeira momentânea, para que tenham chance de se reerguer. É preciso, porém, que cada um tenha pelo menos seis meses de experiência na atividade”, afirma.

Para Meira, uma saída para a desinformação dos serviços de crédito e de orientação ao empreendedorismo pode estar na solidariedade. “Conseguir um avalista quase sempre é constrangedor. O melhor caminho é formar um grupo, uma rede de amigos de confiança, e procurar o Crediamigo em uma das 59 agências do Banco do Nordeste na Bahia. Somente nos primeiros seis meses do ano, o programa disponibilizou R$ 661 milhões”.

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