quarta-feira, 17 abril, 2024

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Rui tem desafio de não deixar crise com professores universitários virar bola de neve

O governador Rui Costa desembarcou nesta quinta-feira (16) na Bahia após um período de 10 dias fora do país buscando captar recursos e projetos para o estado. Até o momento, a viagem pareceu exitosa com promessas de investimentos de quase R$ 30 bilhões. Os resultados práticos, todavia, devem ser sentidos apenas nos próximos anos, já que a maioria das parcerias são de médio e longo prazo. Porém a chegada dele será marcada por um desafio básico: conter uma greve de professores universitários em um contexto de batalha entre a classe e o governo federal, ainda que os movimentos não estejam relacionados.

 

Educadores do ensino superior baiano estão paralisados há mais de um mês. Segundo dirigentes sindicais, as chances de arrefecimento do movimento não estão tão fortes quanto fazem crer representantes do governo que acompanham a negociação. A disputa, ao que parece, não é apenas por salários. Professores reclamam das condições de trabalho e da política de cortes de recursos para as universidades estaduais, que têm sofrido com os contingenciamentos constantes do Palácio de Ondina.

 

Há uma dificuldade orçamentária e esse é o principal discurso de Rui. A crise econômica, que deixou de ser uma marola há muito tempo, não dá sinais de que pode diminuir em um curto prazo. O governo federal insiste em bater cabeças e, por mais que o ministro da Economia, Paulo Guedes, consiga ser uma balança junto ao mercado, dificilmente 2019 será um bom ano do ponto de vista econômico. Se o barco do Brasil segue em direção ao precipício pregado pelo terraplanismo, a Bahia não conseguirá remar contra a maré. O governador sabe disso.

 

Por enquanto, a política de austeridade adotada por Rui funcionou – e isso até mesmo os adversários são obrigados a admitir. Enquanto parte do país enfrentou uma crise financeira sem precedentes, a exemplo do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, a Bahia conseguiu manter compromissos e certa estabilidade. Acontece que a reforma da Previdência, tão temida quanto necessária, não parece em vias de aprovação e, a longo prazo, isso deve quebrar até a máquina pública mais bem arrumada que exista.

 

No final das contas, as duas situações podem não ser interdependentes, mas viraram uma coisa só. Rui apertou os cintos das universidades. Os professores entraram em greve. A Bahia pode entrar em crise fiscal, caso o governo ceda a pressões. O estado precisa de uma reforma da Previdência. O governo federal não consegue aprovar o projeto no Congresso Nacional. E aperta os cintos das universidades federais. Cria-se então a mobilização dos professores, que acaba incorporando a pauta dos educadores baianos. Uma bola de neve que não para de crescer.

 

A eventual retomada das negociações com as universidades estaduais com Rui será difícil por causa do contexto geral do Brasil. E ele sabe disso, tanto quanto os professores. Mesmo que não seja crítica, a situação é delicada. Por isso o desafio é grande. As notícias das passagens do governador por EUA, Alemanha e China podem ser boas, mas não serão suficientes para eliminar o risco de crise. Ou Rui vira bombeiro ou teremos mais problemas do que soluções.

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