sexta-feira, 29 março, 2024

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Respeito e renovação política, ou servilismo e covardia?

Alguns políticos ainda não se deram conta do momento em que estamos. Mesmo os mais jovens, que não viveram o tempo em que o poderoso chefão, normalmente ocupante do topo da pirâmide da corrupção, definia quem ia ganhar as eleições, comportam-se como se estivéssemos na época dos chicotes que listravam lombos imbecis, em que no gabinete se decidia quem seriam os capachos eleitos para o parlamento e os postes escolhidos para o executivo.

A declaração dada à imprensa, em 09/05, pelo vice-prefeito Bruno Reis, mostra o escancaramento da humilhante relação entre candidatos inocentes, iludidos com a promessa de apoio e com palpites sobre imaginárias chances, e os “donos” dos partidos políticos. Acham insuficiente o controle pleno e nada democrático das agremiações que integram, cujas decisões são tomadas à revelia e sem respeito à  militância, e lançam agora, como caciques modernos, seus gatázios sobre os partidos aliados, tratando-os como meros apêndices a serem explorados, ou, para usar a expressão histórica, como satélites, sempre a girar em torno do astro rei.

Com o objetivo de acalmar os parlamentares que, especialmente nestes tempos tenebrosos para alguns que sempre ganharam as eleições com dinheiro oriundo da corrupção, temem perder os privilégios do cargo, e que nunca foram eleitos sem os votos dos pequenos (exceto casos como o de Lúcio Vieira Lima, e hoje todos conhecem o motivo), o vice-prefeito anunciou um nítido “passa, menino” nos partidos que se atreverem a tentar eleger seus próprios deputados, recusando-se a servir de “escadinha” para manter os de sempre nas polpudas cadeiras do parlamento.

Em alguns partidos, especialmente os que têm dirigentes obediente$, isso pode ser fácil. Será, no entanto, que Bruno Reis combinou com os russos? Reconheço que ele tem meio$ para convencer alguns partidos a comporem o chapão, mesmo traindo os candidatos pequenos, que foram atraídos pela promessa de que o partido só coligaria com partidos sem deputados, formando chapinhas, nas quais eles têm chance de eleição, mas será que ele tem meios para obrigar os candidatos a confirmarem as candidaturas? Creio que não. Há alguns meses coloquei no ar o www.votovalido.org, onde descrevo a maldade feita com os candidatos inexperientes, que tradicionalmente servem apenas para reeleger os deputados, e percebi grande interesse e surpresa das pessoas para com as informações ali contidas, especialmente as que já disputaram eleição para deputado ou vereador.

E nós, os eleitores, atores principais desse processo, será que é isso que queremos? Estamos satisfeitos com os deputados que temos, e reelegê-los é o desejo do povo?

Bruno Reis precisa lembrar que os partidos pequenos, temendo a degola da cláusula de barreira, precisam eleger seus deputados, especialmente os federais. E assim têm orientado, e até imposto, as direções nacionais, por ser  questão de sobrevivência. Além da arrogância ao mencionar os partidos como se fossem seus, chega o vice-soberano a citar possíveis candidatos, já lhes atribuindo o natural destino da derrota e a vergonhosa condição de “escadinha” anunciada. Não creio que a todos os citados falte dignidade e altivez, como parece supor o vice-prefeito.

A mesma estratégia tem sido anunciada no grupo da situação, e a mesma reação é adotada pelos partidos pequenos.

Somente nas convenções vamos ver quem se respeita, e quer, em sintonia com o povo, renovação, e quem está na política apenas para servir aos sabidos, curvando-se ao atraso.

*Waldir Santos é advogado da União e filiado ao Partido Verde (PV).

 

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