sexta-feira, 29 março, 2024

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Muniz Ferreira: Manifestantes vão as ruas em repúdio à agressão contra a estudante Clara

Amigos e familiares da estudante de Direito Clara Emanuele Santos Vieira, 20 anos, realizaram na tarde deste sábado (19/05), um protesto em Salvador na região do Iguatemi, em repúdio ao que aconteceu com Clara, que teria sido agredida no dia 8 de maio a socos, mordidas e ponta-pés pelo ex-marido, o também estudante de Direito Filipe Pedreira, 19.

“Ele tem que responder por tentativa de assassinato. Ela só não morreu porque fugiu pra casa da vizinha”, revela, emocionada, a tia de Clara,  pedagoga Tatiane Floriano, 38 anos.

Vestidos de vermelho, os manifestantes – a maioria mulheres – levaram cartazes e gritaram pedindo a prisão de Filipe. “Vestimos vermelho por conta do sangue de Clara que foi derramado em todas as agressões que ela sofreu de Filipe”, explicou a recepcionista Jaque Ferreira, 20 anos, amiga de Clara.

O protesto, iniciado às 13h, contou com familiares e amigos de Clara, e também pessoas que se solidarizaram com a jovem. “Isso acontece toda hora. Mas não deixa de deixar a gente triste e indignada”, diz a estudante Isadora Karen, 21. “A gente tomou conhecimento do protesto e viemos. O que mais deixa triste é que o filho dela tava presente e foi agredido”, diz Fernanda Cristina, 22 anos.

A jovem, que é filha do prefeito da cidade de Muniz Ferreira, Wéllington Sena Vieira (PSD), disse ter sido espancada por Filipe, filho do prefeito de Salinas das Margaridas, no dia 8, num apartamento alugado por ela em Santo Antônio de Jesus. Ela recebeu chutes, socos e teve o cabelo cortado com uma faca, usada também para fazer ferimentos nas unhas.

 

Justiça

Os manifestantes se mostraram indignados com a atuação da justiça no caso. “A gente não pode aceitar. Se isso não se resolver aqui no Brasil, vamos acionar a corte internacional”, conta a prima, Isabel Copque, 35. Muitos motoristas buzinaram em apoio ao protesto. Por volta das 14h30, duas pistas no sentido Paralela foram interditadas pelos manifestantes.

A irmã de Clara, a fonoaudióloga Andressa Vieira, 25 anos, foi quem fez a denúncia das agressões. Ela esteve presente no protesto e disse que a justiça tem que agir de forma enérgica para encorajar outras mulheres a fazerem denúncia contra agressão: “Se a justiça não fizer [Felipe] pagar o que fez, o que garante que a mulher que tomou um tapa vai querer denunciar?”.

Segundo familiares, Clara não conseguiu ir à manifestação porque, além de estar com medo de sair de casa, continua muito machucada por causa das agressões do ex-marido. “Ela tá tentando ser forte, mas tem medo de entrar em casa sozinha, nem no quarto ela fica. Só sai de casa para ir na delegacia e no médico. Inclusive hoje ela não pôde vir porque tá com o ouvido muito inflamado, com dor, e com os dentes moles por causa das agressões”, conta Flávia Lima, 42, administradora e tia de Clara.

A Secretária Nacional de Combate ao Racismo, Olívia Santana, esteve presente no protesto. Lá, deu orientações, se colocou à disposição dos familiares de Clara e criticou a liberdade de Felipe. “Clara precisa de proteção, mas ela não tem que ficar encarcerada enquanto ele está livre. É preciso que o judiciário se atente pra isso. Não queremos cavar mais covas para as mulheres. Ela tá presa com medo e Felipe está solto tramando contra ela”, ressaltou. “Sei o que é essa luta. Não é fácil, mas temos que levantar e agir”, disse.

 

Lesões

Os manifestantes reclamaram também do trabalho da perícia, que classificou as lesões da jovem como leves. “O que mais me deixa triste é essa lesão ser classificada como leve. O que vai acontecer agora?”, questiona a enfermeira Maiara Almeida, 29.

Diariamente todas as mulheres são agredidas, psicológica, moral ou fisicamente, lembrou a estudante Fernanda Cristina, 22 anos. ”Em qualquer lugar a gente sofre por ser mulher no dia a dia. A gente se sente menosprezada e inferiorizada”, ressalta ela, que não conhece Clara, mas aderiu ao protesto.

“O apoio da mídia foi essencial para o caso ter repercussão.. E motivou a gente a sair na rua e abrir a boca. A força da mulher tá na voz, não podemos nos calar de jeito nenhum”, disse a irmã de Clara.

Clara denunciou as agressões na 4ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin) de Santo Antônio de Jesus. A jovem também passou por exames no Departamento de Polícia Técnica (DPT).

 

Relacionamento

A delegada Patrícia Jackes, responsável pelo Núcleo de Proteção à Mulher na cidade de Santo Antônio de Jesus, acompanha o caso e afirma que o inquérito deve ser concluído na próxima semana. O pedido de prisão preventiva de Filipe ao final do inquérito não está previsto.

Desde o dia 11 de maio, Filipe está impedido de estar a menos de 100 metros de Clara e do filho de um ano que eles têm. Caso faça isso, será preso.

Clara e Filipe tinham três anos juntos. Começaram a se relacionar no São João de 2015, em Santo Antônio de Jesus, e um ano e meio depois se casaram, em 10 de dezembro de 2016, numa cerimônia na Igreja Matriz de Muniz Ferreira, onde a família da jovem mora.

Clara entrou para a lista de mulheres que já sofreram violência doméstica no estado. Segundo a Secretaria da Pública da Bahia (SSP-BA), até abril deste ano houve 1.456 registros de ameaça contra mulheres, 888 casos de lesão corporal dolosa, sete tentativas de homicídio e 26 feminicídios. Ano passado, houve 53.360 queixas de ameaça, 578 estupros, 56 feminicídios, 4.391 homicídios dolosos, 24.344 lesões corporais dolosas e 2.183 tentativas de homicídio.

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