quinta-feira, 18 abril, 2024

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Morte de motociclista retoma debate sobre fiscalização do uso do cerol

“A lei é de 2017, mas do que adianta fazer lei? Isso até eu faço. Falta fiscalização dos órgãos competentes. Eles aplicam uma multa de R$ 70. O que é esse dinheiro para algo que tira a vida das pessoas?”. O desabafo é de João Rend, sobrinho do motociclista João Arcângelo Rend, 56 anos, que morreu após ter o pescoço cortado por uma linha de cerol na região do Aeroclube, em Salvador, no domingo, 26. O corpo da vítima será sepultado nesta terça-feira, 28, às 10h,

“A multa para vidro fumê mais escuro que o normal é quase R$ 700. O fumê não mataria meu tio, mas uma linha com vidro e cola de sapateiro tirou a vida do meu tio. Isso é revoltante, isso é recorrente naquela região, do que adianta ter a lei se não tem fiscalização”, completa o sobrinho.

O motociclista passava pela avenida Octávio Mangabeira com a esposa, quando foi ferido pela linha. Ele foi socorrido para o Hospital da Bahia com sangramento e já em parada cardiorrespiratória, e chegou a ser submetido a uma cirurgia, mas não resistiu e morreu nesta segunda-feira, 27.

O caso provocou a retomada do debate sobre o uso de cerol nas linhas e a fiscalização nas áreas onde a prática virou rotina. A região do Aeroclube, por exemplo, é alvo de reclamações de moradores e outras pessoas que utilizam o espaço para realizar caminhadas, correr e andar de bicicleta ou por aquelas que apenas transitam com menos frequência – mas correm o mesmo risco, como João Arcângelo.

Um morador do local mostra a cicatriz na boca, provocada por uma linha com cerol que o atingiu quando pedalava pela região. Em entrevista à TV Record Bahia, ele reclamou da falta de fiscalização e disse que é comum ver jovens empinando pipa no antigo Aeroclube, oferecendo risco aos demais passantes.

A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), responsável pela fiscalização, afirma que realiza ações de vigilância contra o uso de pipas com linhas cortantes em áreas públicas e comuns em Salvador desde de junho do ano passado. Porém, até o momento, não houve registro de flagrante no momento da ação dos fiscais.

A pasta ressaltou ainda que o pagamento da multa não exime o infrator das responsabilidades civil e penal, no caso de danos à pessoa física, ao patrimônio público ou à propriedade privada com o uso de cerol.

O major do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, Ramon Dieggo, explica que cerol é uma mistura de cacos de vidro e cola, que é passada na linha de arraias para cortar a linha das outras arraias. Ele alerta também para riscos.

“Essa mistura que se transforma numa navalha é proibida, pois pode causar um acidente e até a morte. O risco é maior para os motoqueiros e ciclistas, mas todos os cidadãos que estiverem transitando na área podem sofrer um acidente grave”, salienta. “As linhas, quando cortadas, se soltam e podem atingir transeuntes e podem ainda eletrocutar se estiver em presas em alguns fios”, completa Ramon.

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