quinta-feira, 18 abril, 2024

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“Damares é a que mais se assemelha com Bolsonaro”

Secretária nacional de Políticas para as Mulheres do Ministério da Mulher, Família e Direitos Huamanos, a baiana Tia Eron (PRB) minimiza as polêmicas envolvidas pelos dois chefes: a ministra Damares Alves e o presidente Jair Bolsonaro. Para ela, a chefe da pasta está sofrendo com o machismo enraizado na sociedade. “Então, a ministra Damares é aquela que mais se assemelha com as propostas do próprio presidente Bolsonaro. E, provavelmente em função disso, a mira esteja sempre voltada na direção dela”, declara Tia Eron, em entrevista exclusiva à Tribuna. No papo, ela fala sobre diversos assuntos, entre eles uma suposta desavença com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e o futuro político do PRB em 2020.

Tribuna – Como a senhora avalia os primeiros dias do governo Bolsonaro?

Tia Eron – Uma avaliação de quem está organicamente ligada ao governo e com uma percepção de que realmente há uma mudança na história da política no Brasil. Isso está claro. Primeiro, foi o ouvir das urnas que culminou nele como presidente. E ele corresponde a essa realidade. Me refiro mais precisamente a questão do conservadorismo, do enfrentamento contra as práticas de corrupção e desvio de finalidade. Isso é uma verdade.

Tribuna – Como amenizar tanta trapalhada nesses primeiros meses de governo? As crises que partiram de dentro do próprio Palácio do Planalto…

Tia Eron – Diria que houve, de certo modo, expectativas e essas expectativas geraram algumas informações e essas informações levaram a tomar certas atitudes. Por exemplo: eliminar algumas memórias de agentes importantes em lugares estratégicos. Foi remodelado e, consequentemente, inviabilizou alguns processos. A parte técnica inclusive ficou um tanto comprometida. Mas a gente também pode considerar o momento dessa nova engrenagem. Esse cuidado em estar tirando essas raízes que estavam lá. Sempre defendi que o façam. Agora, que tenha o tempo certo e a dose certa para isso. É isso que faz o paciente ficar curado e não matá-lo.

Tribuna – Quais são os três maiores desafios do novo governo?

Tia Eron – É o cumprimento de campanha, que foi muito intenso nos discursos. E isso também ele está atento. Ele busca atender ao que foi dito lá atrás, já que a memória ainda está viva. Julgo isso como sendo muito importante. Mas é um desafio, porque a prática de concretização é bem diferente do que possa se dizer. Esse é um dos desafios. Vou dar um exemplo: na primeira semana, tentamos fazer e elaborar uma campanha na questão da gravidez na precoce. E não deu certo. E isso foi dito na campanha, mas quando se trouxe para prática percebeu-se uma série de critérios a serem seguidos. E esse é o segundo desafio: a questão burocrática. Por último, é entender que existem marcos. Quando falo de marcos, são as conquistas e direitos positivados e conquistados, que precisam dessa governança serem remodelados. E isso é também um grande desafio, porque algumas questões já instituídas não podem sofrer retrocessos. Vou dar um exemplo também: dentro da nossa pasta, das 10 declarações de direitos humanos, reza lá que nenhum dos direitos conquistados podem retroagir. E o desafio é nortear, a partir do que já está posto, mas dar outra roupagem dentro daquilo do que acredita-se ser dentro da crença do governo Bolsonaro.

Tribuna – Como vê as críticas sobre os postos do governo sendo ocupados por militares? Vê algum tipo de risco para a democracia?

Tia Eron – Se evitou muito fazer dentro da proposta essa junção. Por outro lado, no entanto, foi importante ouvir. O Congresso pediu. Se vai ter como consequência algum tipo de risco, vai ter que se lembrar que houve ali um apelo do próprio Congresso.

Tribuna – Como a senhora vê a presença do ministro Sérgio Moro no governo? Isso é uma garantia para a população de que casos de malversação do dinheiro público não mais acontecerão ou não serão mais tratados com o devido rigor?

Tia Eron – A presença do ministro Moro é uma personificação da nossa austeridade. É uma presença muito bem vista, não somente pela opinião pública. O senso comum nos sinaliza de forma positiva e isso traduz na personificação moral que ele transmite.

Tribuna – Como avalia as constantes polêmicas declarações da ministra Damares Alves?

Tia Eron – Tem uma coisa interessante que tenho visto é que as mulheres passaram séculos caladas, sem o direito de tomar nenhum tipo de decisão, e quando a gente chega nos espaços de poder a gente não pode falar. Não podemos dizer nada porque somos loucas. Asseguro dizer que se tivesse um ministro homem a frente do ministério, não haveria tanta crueldade, tanto ardil em torno do nome da ministra Damares Alves.

Tribuna – Há preconceito pelo fato da ministra ser mulher ou há excessos da parte dela ou na forma de tratar alguns assuntos?

Tia Eron – Não vou entrar no mérito dos excessos. Eu preciso realmente trazer à memória o que é a nossa luta enquanto mulher. Não é fácil ser mulher, sobretudo da forma como ela se coloca. Não é fácil. Ainda que ela consiga chegar [aos espaços de fala e poder], ela tem que provar que tem competência. Isso nunca basta. Então, a ministra Damares é aquela que mais se assemelha com as propostas do próprio presidente Bolsonaro. E, provavelmente em função disso, a mira esteja sempre voltada na direção dela. Um outro aspecto também importante na questão de Damares é em relação ao ativismo dela, de tudo o que moveu e descortinou. É aquilo que a gente chama de misoginia. Ela não é uma mulher dentro dos padrões. Em regra, as mulheres que contrariam muito tendem a passar por isso.

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