segunda-feira, 18 março, 2024

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Castro Alves

Enquanto arrumo as malas para a Sessão Especial Comemorativa do Cinquentenário de Taurino Araújo, debate sobre a sua Hermenêutica da Desigualdade: uma introdução às Ciências Jurídicas e também Sociais – reflexos na Universidade e Ensino Públicos e Gratuitos com que a Câmara de Vereadores de Itabuna me presta homenagem no auditório do Colégio Estadual Sesquicentenário – CISO, coincidentemente concluo a saborosa leitura deCastro Alves: Deus, Universo, Amor e Liberdade, do advogado e erudito Evandro Guerra, prefácio de Joaci Góes.

Trata-se de escrito contendo 333 páginas, cuja singularidade literária pode ser resumida tanto na originalidade com que o autor destaca o conflito de Castro Alves com Deus, a grandiloquência verbal, o amor às mulheres e a sensualidade, a ligação com as forças cósmicas e terrenas, a complexidade das emoções, a ânsia pela liberdade e igualdade entre os homens e a luta abolicionista quanto pela coragem em dizer coisas às vezes polêmicas sobre a obra e aspectos da personalidade do genial poeta, autor de “alguns dos maiores e melhores versos e poemas da língua portuguesa”, arremata.

No decorrer do texto, a indelével digital autobiográfica de Evandro, suas ideias sobre religião, política, especulações filosóficas e a defesa de suas bem refletidas convicções. Por isso, conforme Joaci Góes, ao detectar na poesia castro-alvense a presença de Deus; imagens grandiosas; amor-sensualidade; liberdade-abolição; lirismo; natureza; escravidão; inconformismo e revolução, Evandro Guerra “aponta os mais candentes versos do poeta, vazados numa quase impossível combinação harmônica de ingredientes da humildade, audácia e destemor olímpico. Tudo isso movido por uma olímpica capacidade poético-narrativa”.

De fato, na escolha daqueles candentes versos, pude revisitar uma seleção feita com singular perspectiva e nitidez, para concluir, com base em Evelina Hoisel, A poesia de Castro Alves: uma construção biográfica? “[o] poder que têm os signos de enlaçar a vida, perenizar o sujeito, consagrá-lo na sua aventura existencial, registar e reconstituir a história individual e coletiva. Talvez por isso, ao intuir a proximidade da morte, ele recorreu à literatura, fecundando cada palavra, inseminando de vida o gráfico da escrita para eternizar-se e eternizar sua nação”.

Liberdade e justiça social são os temas da minha vida. Para Homero PiresCastro Alves foi um milagre de poesia (p. 322) e Suzete Ribeiro me lembra disso (A TARDE, A2, 22/04/2019) ao repetir o que afirmei certa tarde de sábado, 14 de março de 1992, na Academia de Letras de Ilhéus: “Devemos preservar a nossa cultura, a memória do povo brasileiro, através do ícone Castro Alves, (…) Eu acredito em Milagres! É tarde, mas não é tarde”!

Taurino Araújo advogado, escritor, professor doutor em Ciências Jurídicas e Sociais.    academico@taurinoaraujo.com ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM A TARDE, A3, 17/06/2019. 

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